Sim, eu não me canso de olhar para ele. Olha só como ele segura o cigarro, quase deixando ele escorrer entre os seus dedos. Não, eu não concordo com esse vicio que ele têm, mas esse pequeno detalhe arranca-me suspiros porque eu percebo o seu desleixo. Eu não aguento aquele ar de não estou nem ai que ele passa para toda a gente, eu não aguento as camisas maltrapilhas que ele usa. Como se não se importasse, e de facto eu acho que ele não se importa. Repara agora como ele sopra o fumo para o ar, como se quisesse fazer um desenho com ele. Isso lembra-me o dom que ele tem de transformar tudo em arte, como quando ele usava as palavras, ao falar, ao cantar e ao escrever. São coisas tão simples que ele usa, mas ele faz tudo ficar fora do normal colocando essas palavras em ordens e contextos surpreendentes. E agora repara por um segundo em como ele apaga o cigarro e o atira fora com a ponta dos dedos. Eu não sei, mas é como se ele não se importasse para a vida em si, é como se ele só usasse as coisas para tirar o melhor proveito delas e quando conseguia deitava fora o que restasse, só tirava proveito do que havia feito com aquilo. É esse jeito de não estou nem ai, de não ligo para o que vão dizer, de vou usar qualquer roupa, vou fazer qualquer coisa que me cativa nele, é esse jeito de sorrir depois de tudo o que me faz refém dele, e eu não consigo evitar, porque no fundo, no fundo eu gosto, e ele sabe.

2 comentários:

Seguidores